RIO - As margens da Baía de Guanabara — tomadas pela sujeira que fica visível na maré baixa, ou o voo de urubus sobre a populosa Belford Roxo ou a pequena Varre-Sai são sintomáticos. Todos os dias, o Estado do Rio dá destino inadequado a 6.785 toneladas de detritos que acabam em lixões e aterros controlados. Outras 204 toneladas sequer são coletadas e vão parar em encostas, rios, terrenos baldios e beiras de estrada. O resultado desse cenário degradante aparece nas estatísticas mais recentes. Pela primeira vez nesta década, as cidades fluminenses reduziram a quantidade de lixo que recebe tratamento adequado em aterros sanitários. Resumindo: se já não era ideal, a situação do descarte de restos e detritos de atividades de toda a natureza — de domésticas a industriais — piorou. Uma má notícia para o meio ambiente e a saúde pública do estado.
CRISE POR TRÁS DAS ESTATÍSTICAS
Segundo a pesquisa, em 2016, o Rio destinou 14.688 toneladas diárias de resíduos sólidos urbanos para aterros sanitários, o que equivale a 68,4% das 21.474 toneladas coletadas por dia. Em 2015, foram 68,6% ou 15.021 toneladas/dia. O dado do ano passado representa um retrocesso em relação à situação de 2014, quando foi registrado o mesmo índice, 68,4% (14.719 toneladas/dia).
— Os avanços vinham ocorrendo, embora a passos lentos. Agora, observamos uma curva contrária. E nosso grande receio é que isso se transforme numa tendência. O assunto resíduo sólido não é visto como prioritário na nossa sociedade. Diante da crise atual, foi uma das primeiras políticas sacrificadas pelas administrações públicas municipais. As prefeituras diminuíram os recursos para o setor, cortaram empregos, deixaram de pagar aterros sanitários e não hesitaram em reabrir os lixões. Mas percebemos que a população também não cobra uma reversão desse quadro — afirma Carlos Silva Filho, presidente da Abrelpe.