O DRHIMA informa que em atendimento ao que determinam as “DIRETRIZES DE CONTINGÊNCIA DA COVID-19 NO ÂMBITO DA UFRJ” está cancelado o Seminário “Tratamento avançado de água e efluentes visando a remoção de nutrientes, micropoluentes e microcontaminantes”.
O DRHIMA agradece a todos os palestrantes alemães e brasileiros e demais instituições envolvidas na organização do evento.
Todos os inscritos serão em seguida comunicados sobre a concessão de certificados e a disponibilidade dos slides das apresentações.
Rio de Janeiro — O plástico, produzido a partir do petróleo, se tornou um dos grandes vilões do meio ambiente. O uso de sacolas de supermercados, copos e canudinhos vem sendo cada vez mais evitado. Embora o consumo de plástico deva crescer 1,5% neste ano, para 7,2 milhões de toneladas no país, essa aversão vem provocando uma espécie de revolução silenciosa em toda a cadeia da indústria petroquímica.
De um lado, há o desenvolvimento de tecnologias para produzir resinas plásticas a partir de fontes renováveis, como cana-de-açúcar, milho, mandioca e batata. Do outro, a busca pela reutilização do material que hoje é descartado na natureza.
De acordo com a European Bioplastics, associação das empresas do setor, os plásticos feitos a partir de fontes renováveis respondem por apenas 1% da produção global de plásticos, de 359 milhões de toneladas. Mas uma série de iniciativas deve incrementar essa fatia, inclusive no Brasil.
“Há um esforço de toda a indústria em criar novos plásticos, mais leves e mais fáceis de serem reciclados, a partir de fontes renováveis. Essas soluções ainda são muito novas e muitas ainda estão em fase inicial. Mas são extremante importantes para o futuro”, disse José Ricardo Roriz, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).
No Brasil, a Braskem, maior produtora de resinas da América Latina, vem investindo no desenvolvimento de plásticos a partir da cana-de-açúcar. A companhia tem uma unidade no Rio Grande do Sul voltada para esse tipo de plástico, que consumiu investimentos de US$ 290 milhões.
A empresa se prepara para atingir a produção de 10 mil toneladas por ano de uma resina a partir do etanol (chamada de Eva), que tem aplicação para diversos setores, como o de calçados e automotivo, entre outros. E estuda ampliar suas operações.
“A gente imagina que a demanda pelo plástico verde vai crescer mais rápido do que a do plástico de origem fóssil (a partir do petróleo), e a gente avalia oportunidade de novos investimentos”, disse Edison Terra, vice-presidente da Unidade de Olefinas e Poliolefinas da Braskem na América do Sul.
Segundo ele, há uma demanda crescente no mercado por esse tipo de produto, e a companhia tem analisado novas alternativas possíveis de investimento, mas ainda não foi tomada qualquer decisão nesse sentido.
“Trabalhamos em diferentes opções de aumento de capacidade da produção do plástico verde. Estamos sempre atentos a oportunidades de negócios sustentáveis”, afirmou Terra, destacando que a companhia vem desenvolvendo pesquisas para buscar outras fontes renováveis.
Na ponta dessa cadeia, a indústria vem adotando com rapidez as inovações. É o caso da Copapa, uma fabricante de papel higiênico que usa plástico feito a partir do milho. Fernando Pinheiro, diretor executivo da Copapa, lembra que, ao iniciar uma série de mudanças sustentáveis em sua linha de produção, buscou novas opções para o plástico usado nas embalagens do papel higiênico.
Após estudar alternativas, passou a usar uma resina a partir do milho, que é importada da Alemanha. A troca faz parte dos R$ 10 milhões que a companhia investiu em pesquisa e desenvolvimento.
“O plástico ganhou uma fama de vilão no mundo todo. Hoje, a dificuldade é buscar os fornecedores certos. Apesar de termos um custo maior com o plástico feito de milho, reduzimos a margem de lucro para que o produto fosse acessível “, disse Pinheiro, cuja unidade fabril fica em Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro.
Kate Melges, especialista na campanha de plástico do Greenpeace nos Estados Unidos, critica a busca pelo plástico verde. Ela diz que mudar de plástico descartável para papel, bioplástico ou até materiais compostáveis não é solução.
“Isso é apenas uma lavagem verde usada por multinacionais para manter viva a cultura descartável. E com apenas 9% do plástico produzido realmente reciclado no mundo, sabemos que esse também não é o caminho a seguir”, afirmou Kate.
Para ela, não se pode considerar o plástico de base biológica recurso renovável:
“Não é renovável, pois há pressões do uso da terra e de emissões e processos agrícolas. O plástico de base biológica representa cerca de 1% do plástico do mundo. E a maioria do mercado não é 100% (de fonte renovável), mas, sim, uma combinação de material com origem em combustível fóssil e não fóssil.”
Além da busca de mais fontes renováveis, outra área de atuação da indústria é a reciclagem do plástico. O Brasil tem hoje um índice de reciclagem de 26%, percentual bem abaixo do de países da Europa,como Portugal, Espanha e Alemanha, cuja taxa oscila entre 40% e 50%.
Edison Terra, vice-presidente da Unidade de Olefinas e Poliolefinas da Braskem na América do Sul, destaca as iniciativas que visam ao reaproveitamento do plástico. Segundo ele, outra frente de trabalho é conseguir produzir novamente uma resina plástica com qualidade a partir da reciclagem dos materiais usados.
“Temos trabalhado de forma conjunta com toda a cadeia petroquímica para encontrar soluções para os resíduos de plásticos, porque é um problema que não dá para ignorar”, explicou Terra.
Hoje, no Brasil, a reciclagem de plástico ainda é pequena: cerca de um quarto de todo o material descartado é reaproveitado, dizem a Braskem e a associação do setor.
“Estamos investindo no desenvolvimento de tecnologias no campo da reciclagem química, e o nosso foco é transformar plásticos pós-consumo, como sacolinhas de mercado e filmes de embalagens de salgadinhos e biscoitos, novamente em produtos químicos que podem ser utilizados em diversas cadeias de valor”, destacou Terra.
A SC Jonhson, fabricante de produtos como Off e Raid, selou uma parceria com a canadense Plastic Bank, que recolhe e recicla garrafas e sacos que chegam aos mares.
A organização, que acabou de abrir três centros de coleta no Rio, vai inaugurar seis novas unidades entre fevereiro e maio deste ano.
David Katz, presidente da empresa e idealizador da iniciativa, diz que os novos locais ainda não foram definidos.
“Pretendemos estar em áreas vulneráveis socialmente, perto da região da Baía de Guanabara. O Rio é a nossa primeira cidade escolhida fora da Ásia”, afirmou.
A Plastic Bank paga pelo plástico que recebe de catadores. Segundo o Sindicato Independente de Recicladores do Rio de Janeiro, existem cerca de 300 mil catadores independentes que dependem da coleta de materiais recicláveis nas ruas.
O que o centro de coleta faz é revender esse plástico a empresas. A SC Jonhson, por exemplo, vai lançar neste ano uma garrafa 100% reciclada para uma de suas marcas.
“Construir uma infraestrutura que interrompa o ciclo desses resíduos antes que terminem no oceano é fundamental”, disse Fisk Johnson, presidente do Conselho de Administração e presidente executivo da SC Johnson.(R. O. e B. R.)
Fonte: Exame
*Por Luiz Pladevall. Engenheiro, presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).
O avanço da universalização dos serviços de esgotamento sanitário e de abastecimento de água sofreu um duro golpe no início de 2020. Por meio do Decreto nº 10.203, o presidente Jair Bolsonaro prorrogou mais uma vez o prazo para a entrega do plano municipal de saneamento básico, agora para dezembro de 2022. Essa é a terceira prorrogação da entrega dos documentos pelas cidades, uma obrigatoriedade para receber recursos públicos federais imposta pela Lei 11.445/2007, também conhecida pela Lei do Saneamento.
Em junho de 2019, um levantamento divulgado pela Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental) revelou que na categoria Rumo à Universalização, 69% dos municípios possuíam um plano de saneamento, mas na categoria Primeiros Passos para a Universalização, apenas 37% tinham o documento aprovado.
O governo federal mais uma vez adota uma postura que vai na contramão dos esforços para a universalização do saneamento básico no país. O adiamento, sem prever qualquer apoio técnico aos municípios, e com estabelecimento de metas para os próximos anos, continua a repetir a mesma política dos governos anteriores, após mais de dez anos de entrada em vigor na Lei do Saneamento.
Entidades do setor já propuseram medidas que pudessem aumentar o comprometimento das administrações municipais no avanço dos seus planos por meio de uma ampla discussão com as municipalidades. Uma das propostas apresentadas pela Abes previa que os municípios maiores e com equipe especializada deveriam entregar o documento em um período menor. Já as localidades com população inferior a 10.000 habitantes poderiam preparar um plano simplificado.
Mesmo com a entrada em vigor do novo marco legal do saneamento, em discussão no Congresso Nacional, os municípios terão o compromisso de entregar os planos de saneamento. A demora na preparação do documento é resultado da falta de especialistas nas administrações municipais capazes de responder às exigências da lei. Entre as cinco mil cidades brasileiras, cerca de 80% sequer contam com um profissional de Engenharia capacitado para preparar ou estruturar o plano.
Por isso, a participação do governo federal é essencial – por meio de uma estrutura técnica que possa planejar e apoiar tecnicamente – para o avanço na universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário no país. O saneamento precisa se tornar uma política de Estado e ter um único rumo, independente do governo de plantão. Cabe ainda à esfera federal organizar e oferecer instrumentos técnicos para que os municípios possam elaborar seus respectivos planos.
Nas mudanças de governo, se renovam as expectativas de que novos rumos poderiam ser tomados com o saneamento. Infelizmente, estamos assistindo a repetição de uma velha história.
Fonte: Tribuna do Vale
A operação que vai retirar 3,5 mil toneladas de óleo combustível e 140 toneladas de óleo diesel do navio Stellar Banner, que está encalhado a 100 km da costa do Maranhão, deve começar a partir da próxima terça-feira (10), de acordo com a Marinha do Brasil.
O plano para a retirada deve ser entregue a Marinha e ao Ibama até o domingo (8). As manobras de resgate estão sendo desenvolvidas por empresas contratadas pela Vale, responsável pela carga de minério de ferro e pela Polaris Shipping, proprietária do navio. O principal objetivo é garantir a preservação ambiental e conter possíveis vazamentos de poluentes.
“Temos a expectativa no dia 10. A gente vai ter que analisar cada passo, ver se está de acordo, se tem garantia e se ela está sendo cumprida. E temos os diversos navios que são necessários para a retirada da carga e esses navios não estão aqui em São Luís, são poucos os que tem no Brasil e alguns vem de fora. Os contratos são difíceis, pois são navios com alta tecnologia feitos especificamente para esse tipo de dano ambiental ou para a retirada do óleo como é esse tipo que são óleos especiais. Outros estão sendo mobilizados porque são muitos tipos de navio para se confrontar as diversas necessidades”, explicou Newton Costa Neto, comandante do 4º Distrito Naval.
As operações devem contar com a ajuda de navios de alta tecnologia especializados nesse tipo de resgate e que devem vir de outras partes do Brasil e até de fora do país. A Marinha aguarda a chegada dos navios em São Luís nos próximos cinco dias.
Para o comandante Newton Costa Neto, o plano é considerado complexo por conta do tamanho da embarcação, pela quantidade de minério e de óleo que estão armazenados no Stellar Banner. Além disso, o local onde o navio está encalhado possui grandes correntes marítimas e variações de maré, o que torna a operação de retirada complicada.
“A prioridade um eram as pessoas [tripulantes], elas foram retiradas e há garantia de que não há risco. A prioridade dois é a retirada do óleo e a parte de total prevenção de qualquer risco ambiental. Esse é o nosso foco agora, nós estamos nos dedicando imensamente a isso. E a parte de salvatagem do navio já começou, desde o primeiro momento nós já estamos estudando e fazendo todos os levantamentos para chegar a um plano que é bem complexo, para fazer a retirada do navio do local com segurança. O navio é grande, muito grande e que tem quase 300 mil toneladas de minério de ferro a bordo, então uma parte disso é inédito e nós vamos ter que trabalhar. O local tem grandes correntes, grandes variações de maré, o que torna uma operação dessa bastante complexa para nós”, disse Newton Costa Neto.
A área afetada no casco do navio é de cerca de 25 metros, segundo o chefe de Estado-Maior do Comando do 4º Distrito Naval, Robson Neves Fernandes, nessa quarta-feira (4), em São Luís. O representante da Marinha também informou que seis mergulhadores têm feito inspeções no casco da embarcação de 340 metros de comprimento.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, veio a São Luís acompanhar o trabalho da Marinha e do Ibama, e reforçou que não há vazamentos de óleo no oceano. "Já não há óleo no mar. O que chegou a ser detectado foi uma pequena quantidade de óleo nos primeiros dias, que já foi dissipado e já não há mais detecção de óleo no mar", enfatizou.
Ricardo Salles descartou qualquer comparação com as manchas de óleo que atingiram o litoral do nordeste, Espirito Santo e Rio de Janeiro no fim do ano passado. Para o ministro, são duas situações com circunstâncias e proporções completamente distintas.
De acordo com a Polaris Shipping, dos 20 tripulantes Stellar Banner, 12 são coreanos são coreanos e oito são de nacionalidade filipina. Após o resgate, seis estão ainda na região ajudando na operação de salvatagem e seguindo as instruções da Capitania dos Portos.
A empresa afirmou que os outros 14 tripulantes da embarcação já estão em terra firma e devem ser repatriados após entrevistas com autoridades em São Luís.
Na sexta-feira (28), o Ibama havia verificado o vazamento de 333 litros de óleo no mar e o poluente havia se espalhado por uma área de 0,79 km². No sábado (29), o instituto afirmou que não visualizou mais as manchas de óleo encontradas anteriormente.
Técnicos também trabalharam para vedar ainda mais os tanques de combustível e reforçar as travas dos compartimentos de carga, onde está o minério. O navio hidroceanográfico ‘Garnier Sampaio’, da Marinha, também está na área para reforçar as operações.
Inquérito
A Superintendência da Polícia Federal (PF) no Maranhão informou que abriu um inquérito para apurar possível crime ambiental no acidente do Stellar Banner. Antes, a Marinha já tinha informado que instaurou um inquérito administrativo para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades sobre o caso.
A Marinha e o Ibama ainda não descartam completamente o risco vazamentos no navio. Atualmente, a embarcação segue encalhada e com cerca de 290 mil toneladas de minério de ferro, além de quatro milhões de litros de combustível e óleo. Se houver vazamento, todo o material pode se espalhar pelo litoral.
"O ideal é que se façam estudos que tenham com precisão os reais riscos da embarcação. Mas, independente disso, são tomadas todas as providências de forma preventiva. Então nós já temos um estudo de modelagem, para onde esse óleo pode bater, chegar na costa, caso venha a acontecer um incidente. E já deixar disponível os equipamentos de proteção a essas áreas sensíveis", afirmou Marcelo Amorim, coordenador de atendimento de emergência ecológica do Ibama.
O navio Stellar Banner tem capacidade para 300 mil toneladas de minério de ferro e possui 340 metros de comprimento, o equivalente a quase quatro campos de futebol. A embarcação foi abastecida pela Vale e saiu do Terminal Portuário da Ponta da Madeira, em São Luís, com destino a um comprador em Qingdao, na China.
Segundo a Capitania dos Portos, o navio apresentou ao menos dois locais com entrada de água nos compartimentos de carga por volta das 21h30 desta terça (25) e começou a afundar no Oceano Atlântico. Uma fissura no casco pode ter sido a causa. O comandante do navio emitiu um alerta de emergência via satélite e levou a embarcação para um banco de areia.
Equipes da Capitania dos Portos e da Vale foram encaminhadas para o local e cerca de 20 tripulantes foram evacuados. A empresa Polaris Shipping, proprietária do navio, informou que todos os membros da tripulação estão seguros e que está realizando inspeções para evitar maiores danos.
Fonte: G1
*Por Isaac Volschan Jr.
Esgotos sanitários são gerados em decorrência do uso urbano das águas de abastecimento. Os domicílios e as atividades comerciais, público-institucionais e industriais inseridas no meio urbano utilizam a água provida pelo sistema público de abastecimento e a ela agregam substâncias de diversificada composição física, química e biológica. A reunião das águas residuárias provenientes das fontes que utilizam a água é que principalmente compõe os esgotos sanitários.
Todos usuários urbanos de água utilizam detergentes e sabões para fins de higiene e limpeza de uso pessoal, de bens materiais, e de suas respectivas edificações e instalações. Portanto, esgotos sanitários sempre contiveram detergentes e sabões.
O lauril sulfato de sódio é o agente surfactante mais utilizado pela indústria de higiene e limpeza e de fabricação de produtos cosméticos. A legislação brasileira obriga a fabricação de detergentes com base em estruturas carbônicas lineares, e sujeitos a degradação por ação de organismos decompositores, configurando o que se conhece como “detergente biodegradável”. Diferentemente, detergentes fabricados com base em cadeias carbônicas ramificadas mantêm-se refratários e persistentes à degradação biológica, assumindo maior potencial para a poluição das águas.
A presença de surfactantes na água é identificada e quantificada com base em parâmetro físico-químico específico, denominado Surfactantes ou Substâncias Tensoativas. O método analítico empregado para a sua determinação é baseado no parâmetro MBAS (Substâncias Ativas ao Azul de Metileno).
Em geral, surfactantes são constituídos por moléculas específicas, com afinidade por óleos, gorduras, soluções com sólidos, líquidos ou gases, e também pela água. Em função de sua constituição molecular conter uma extremidade hidrofóbica e outra hidrofílica, estas substâncias podem pertencer a dois meios distintos e conciliar fases imiscíveis. Esta propriedade permite sua interação com substâncias polares, tal como a água, como também com substâncias apolares. Como as extremidades hidrofóbicas não apresentam afinidade com a água, porém afinidade entre si, tendem a se reunir e, organizadamente, formarem estruturas denominadas micelas. A solubilização de substâncias tensoativas em meio aquoso e a distribuição de micelas por todo o volume é que determinam a eficiência do processo de detergência. Ambos os mecanismos dependem de mistura e agitação, sendo esta última a causa principal da formação da espuma.
Assim é que em corpos d’água naturais, a combinação entre a presença de surfactantes e mecanismos de agitação da massa d ́água, por ação hidrodinâmica naturalmente turbulenta ou por qualquer outra intervenção externa, pode levar ao desencadeamento do processo de formação de espuma.
A paralisação da captação de água para a produção da ETA Guandu encontra-se justificada pela CEDAE, em função da identificação visual da formação de espuma em unidades/dispositivos da ETA, e na sequência, da identificação analítica laboratorial da presença de surfactantes.
Neste contexto, é possível afirmar que:
- Devido ao uso de sabões e detergentes, surfactantes/tensoativos estão sempre presentes nos esgotos sanitários;
- Enquanto fonte nutricional também responsável pelo processo de floração de algas e de crescimento de cianobactérias, inclusive aquelas espécies produtoras de Geosmina, a presença de fósforo nos esgotos sanitários não é somente devida a origem fisiológica humana, mas também é função do uso de produtos de higiene e limpeza. Aproximadamente 50% da massa de fósforo veiculada pelos esgotos sanitários têm origem no uso de sabões e detergentes;
- Esgotos sanitários gerados na bacia hidrográfica do rio Guandu não são tratados, poluem o manancial e vêm conferindo à água bruta captada pela ETA Guandu, qualidade incompatível com a tecnologia de tratamento de água instalada. A impossibilidade do contínuo atendimento ao padrão de qualidade de água para consumo humano impede a distribuição da água produzida;
- Infelizmente, apesar de paralisar a produção de água tratada para atendimento de 9 milhões de habitantes, a interrupção da captação de água do manancial poluído constitui estratégia adequada para situação de impossibilidade de produção de água tratada de acordo com padrão de qualidade para consumo humano. A estratégia serve como medida emergencial para conter os efeitos do maior problema ambiental do Estado do Rio de Janeiro, provavelmente do país;
- As imagens que ilustram a atual formação de espuma em unidades/dispositivos da ETA correspondem situação extraordinariamente atípica. A ETA Guandu sempre captou água bruta contendo níveis toleráveis de surfactantes/tensoativos, e que usualmente não são capazes de proporcionar geração de tamanha quantidade de espuma. A situação atípica sugere a presença de surfactantes de composição não usual, típica de eventos extraordinários, tais como derramamentos acidentais ou não. Por outro lado, a presença de surfactantes de mesma composição que a usual, porém em quantidades maiores que as usuais, e por hipótese, associada às chuvas que ocorreram na bacia do Guandu, não encontra registros em eventos pluviométricos pretéritos similares.
- Desnecessário reafirmar que o absurdo descaso de sucessivos governos quanto ao esgotamento sanitário da bacia do rio Guandú seja a causa do problema. Reitera-se a emergência quanto ao devido saneamento ambiental de toda a área urbana dos municípios drenados pelos rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, o qual deverá contar com o tratamento terciário dos esgotos visando a remoção de nitrogênio e fósforo.
- Reitera-se que remediar a qualidade da água de corpos d’água poluídos faz somente sentido para o caso de aporte proveniente de fontes difusas de poluição. Ainda assim, após o devido controle das fontes pontuais de poluição, como é o caso dos esgotos sanitários. Tanto o encapsulamento de fósforo com emprego de tecnologia de adsorção e imobilização, o tratamento da água dos cursos d’agua em linha corrente, ou qualquer outra solução de remediação da poluição em recursos hídricos, devem ser somente idealizadas a partir do devido controle da poluição advinda de fontes pontuais, como é o caso dos esgotos sanitários. Neste mesmo contexto é que se insere a alternativa de transposição dos rios dos Poços, Queimados e Ipiranga para jusante da barragem do Guandu. A transposição de bacias deve sempre se configurar como uma solução complementar, no sentido da eliminação do aporte de cargas nutricionais provenientes de fontes difusas à ambientes lênticos, visando o menor risco sobre a qualidade ambiental e sanitária do manancial.
Fonte da Imagem: G1 - Portal de Notícias
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do DRHIMA UFRJ